31 outubro, 2008

Jujubas Verdes


Aqui, no sul do Brasil, nos quatro meses que são abrangidos pelo verão, onde a maioria da população goza de suas merecidas férias, tem-se o costume de abandonar as cidades e rumar, como num êxodo, para o litoral num período, localmente, denominado por “veraneio”, e o ápice desse fenômeno migratório dá-se nos meses de janeiro e fevereiro.


Veranear é quase como uma obrigação para a classe proletária, que passa os oito meses restantes planejando a viagem, a estada, calculando as finanças, organizando tudo nos ansiados dias que passarão de papo pro ar, somente com o mar por testemunha.


O mar! Ah, o mar. Esse é o mais esperado pelos veranistas que, dias antes, chegam a sonhar que já estão invadindo aquela imensidão da água.


O sol, a areia sob os pés, o futebol na beira da praia (por parte dos homens), os bronzeamentos conseguidos com o “sol das onze”(por parte das mulheres), até mesmo a pele descascando no final da vacância são muito bem vindos neste intervalo de solstício de verão.


E foi num desses veraneios da vida que o Glauco conheceu a Júlia.


Sentado embaixo de um guarda sol, de óculos escuros, olhos fechados, entre ele e a África só o mar (gostava de pensar assim quando estava na beira da praia), no estado entre o acordado e o sono, vulgo madorna, foi despertado por uma bolinha de frescobol batendo em seu abdômen. Assustado, quase caiu. Pegou a maldita bolinha e ia atirar longe, com toda a raiva, quando em sua direção vinha uma loira, cabelos levemente cacheados, olhos verdes, pele amorenada de algumas semanas de bronzeamento, a marquinha do biquíni em evidência, corpo escultural e um sorriso desarmador. Era Júlia.


A mão esticada de Julia pedia a bolinha que foi entregue seguido de um obrigado, pronunciado com voz angelical. Glauco agradeceu também, não a ela, mas ao mundo, ao destino por ter colocado aquele exímio espécime do sexo feminino à sua frente.


Glauco ficou ali durante horas, estático, só observando aquela Vênus de Milo que se mexia, sentindo-se o próprio Yorgos.


Não sabe ao certo quanto tempo se passou até o momento que ele mesmo intitula de “o encontro” acontecer. “O encontro” ocorreu quando cansada de jogar o frescobol com seu sobrinho, Julia olhou em volta com o propósito de perguntar as horas e mirou Glauco. A passos lentos e cadenciados chegou perto e perguntou-lhe. Glauco, ainda abobalhado, disse que não tinha relógio. Ela sorriu. Ia movimentando-se para achar alguém que lhe pudesse dar a informação quando ele disse que era a hora certa. “Hora certa para quê, extamente?”, perguntou ela intrigada. Hora certa para conversarmos, respondeu.


Normalmente, ela iria embora, pois se tratava de mais uma cantada barata, todavia não o fez. Ficou.


Apresentaram-se. Ela dispensou o sobrinho. Ele tratou de começar a falar. Ela sentou-se à sua frente, entre ele e o mar. Entrosaram-se rapidamente, estavam na mesma faixa etária. Ele um pouco mais velho. Ela muito esperta. A idade dele compensava a maturidade dela. E vice-versa. Igualavam-se.


Estava ficando tarde. Marcaram para o dia seguinte, no mesmo local. Cedo, bem cedo.


E assim foi nos dias que se passaram. Encontros, conversas a beira mar. Entre ele e o mar só Julia (gostava de pensar assim quando estava com ela em frente ao oceano, pois ela sempre sentava à sua frente).


Ele tinha encontrado a perfeição. Ele de touro. Ela de escorpião. Completavam-se sexualmente, disse ela, sem pudor.


Ambos amavam cinema. Concordavam nos gêneros de filmes.


No futebol, torciam para o mesmo time, fanáticamente. Quase choravam, ao lembrar de façanhas passadas do time do coração.Faziam faculdades diferentes. Ele, Letras. Ela, Administração. Mas eram da área das humanas.


Na gastronomia o consenso era lasanha e o velho e bom churrasco de domingo.


Ele conversava com ela sobre escova progressiva. Ela conversava com ele sobre quadrinhos.


E assim passaram a por muitos assuntos desde astronomia até a novela das oito. Concordavam em tudo. Tudo mesmo.


Um dia, como de costume, no fim do veraneio, quando andavam de mãos dadas, felizes, passou um menino vendendo jujubas. Julia quis. Glauco comprou.


Abriu o pacote e ofereceu a primeira a ele. Glauco não quis. Ela perguntou se ele não gostava. Ele disse que adorava, com exceção das verdes. Ela parou no meio da rua, estupefata. Ele perguntou o que houvera. Ela disse que amava jujubas verdes. Ele disse que não suportava. Ela esbravejou e saiu pisando firme.


Nunca mais se falaram.


Ela não atendeu seus telefonemas, não respondeu seus e-mails e nem suas mensagens.


Nos os veraneios seguintes, Glauco foi para a beira da praia com um caixa de jujubas. Come só as verdes, à contra gosto, mas come, na esperança de reencontrar Julia, jogando frescobol à sua frente, até porque entre ele e o mar não há mais ninguém.

30 outubro, 2008

Perdoai-vos! Eles não olham a contracapa


Como um conformado proletário que sou, dependo de ônibus. E não pode ser qualquer tipo de ônibus.

Tem que ser daqueles transbordando, expelindo gente, como um nariz ranhento em pleno terceiro dia de gripe. Daqueles que em cada parada, desce um e sobe oito. Os passageiros respiram em compasso, pois não há espaço para expirações aleatórias ou bocejos.

Preparava-me psicologicamente para acotovelar-me com os demais 136 transeuntes ali, que esperavam coincidentemente o mesmo coletivo que eu, quando olhei para o lado e vi, uma bela estudante, empunhando seus livros.

Até aí normal. Horário de saída de escola, ônibus, estudante. Porém um fato chamou-me a atenção: Nas mãos da estudante havia dois livros e na contracapa deles havia o hino nacional impresso.

Sim. Nos dois! Eu vi. Estava escrito “Hino Nacional Brasileiro” em letras garrafais e em negrito.
Foi então que o ônibus chegou. Ela subiu. Junto com ela mais quatro meninas. Todas com seus livros didáticos na mão.

E pasmem! Todos tinham o Hino impresso na contracapa.

Saí do acotovelamento e sentei-me em um dos bancos ali perto para observar a turba de estudantes que passavam ali naquele horário.

Fiquei estático durante um tempo que não sei precisar e nesse ínterim só apertava os olhos para ver se todos os livros tinham o hino impresso.

E tinham.

Há um tempo atrás, vi em um programa na TVE (sempre gostei dos programas da TVE, desde pequeno) que entrevistava pessoas na rua para ver se elas sabiam cantar o Hino Nacional corretamente. Foram vários. E só um cantou correto, por que era militar.

Passei seis anos no quartel e uma das boas coisas que aprendi por lá foi cantar hinos. Aprendi uns 254 hinos diferentes nas aulas de canto. Desde o hino da minha cidade até o “Cisne Branco”.

Lembro que uma das aulas mais interessantes que tive na escola foi quando tivemos que interpretar o texto do Hino Nacional. Foi fantástico. Naquele dia fiquei conhecendo o significado de palavras como: fúlgidos, florão e lábaro.

Não consigo entender por que o brasileiro tem a dificuldade com o hino brasileiro, se ele está impresso na contracapa dos livros didáticos.

Será que ninguém olha a contracapa?

Ou será que ninguém dá bola para as coisas do país?

Os alunos brasileiros carregam os livros por obrigação e não por vontade de aprender.

É uma utopia querer que um jovem de 16 anos saiba o hino nacional corretamente, afinal ele tem coisas mais importantes a fazer, tais como ficar no celular, no MSN, Orkut...desculpe, mas não pude segurar a ironia.

Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta.

Será?

Subi no ônibus, não liguei para os cotovelos, cerrei minha cara em uma das janelas e fui, infausto.

28 outubro, 2008

Sidaction

Camapanha francesa contra a AIDS.



Sensacional a criatividade!!!

26 outubro, 2008

Segundo turno

Domingo, 26 de outubro de 2008.



Geraldo abriu os olhos, sentiu a luminosidade proveniente da janela semi-aberta cegar-lhe, momentaneamente. Esfregou-os veementemente enquanto bocejava e espreguiçava-se. Afastou o lençol, sentando-se na cama. Olhou para a fresta da janela e percebeu a chuva que castigava a cidade desde o dia anterior continuava sem trégua. O desânimo que o acompanhara durante toda a semana ainda o dominava.


Levantou, finalmente, cambaleando entre a desordem de seu quarto-sala, rumando ao banheiro para aliviar a bexiga.


Enquanto deixava sua urina escorrer privada abaixo, pensava que além de todas as desgraças que estava passando tinha que exercer seu dever de cidadão. Tinha que votar.


Cidadão??? Será que a sociedade ainda o considerava um cidadão?


Desempregado há muitos meses, vivendo da boa vontade alheia e de “bicos” que esporadicamente apareciam. Nada na sua área de trabalho. Tinha que comer, então fazia o que aparecia. Tinha que comer. Fato.


Pensou enquanto lavava as mãos. Olhou ao redor e notou a deterioração do seu banheiro. Paredes descascadas, cano d’água sem chuveiro, descarga quebrada, odor fétido de urina choca. Aquilo não era um local digno para um ser humano viver.


Saiu daquele ambiente inóspito e retornou ao quarto-sala tão degenerado quanto o outro. Abriu a geladeira. Só água. Debruçou-se sobre a porta do eletro doméstico, suspirando. Não havia solução. E o pior é que ainda tinha que votar.


Votar??? Para quê votar? Resolveria seus problemas?


Todas as vezes que exerceu a “democracia” a coisa só parecia piorar. No início, ele tinha esperanças de que poderia mudar o rumo do país, que as coisas poderiam melhorar, que os pobres poderiam viver com dignidade, alimentando-se pelo menos três vezes por dia.


Algumas vezes pareceu que a coisa andaria. Mas nada disso ocorreu. Tudo só piorou.


Fechou a porta da vazia geladeira e girando nos calcanhares foi até uma pilha de roupas. Colocou a primeira camiseta que parecia limpa e uma calça jeans surrada. Calçou o tênis quase sem sola e voltando ao fétido banheiro, jogou uma água nos cabelos e no rosto. Olhou-se no espelho e teve a visão da derrota. Viu a sua face, desfigurada, olheiras profundas, barba por fazer de alguns dias e um olhar perdido, como se não estivesse mais neste mundo.


Ficou alguns minutos encarando-se. Lembrou-se de um Geraldo diferente, com esperanças, com vida, com entusiasmo. Um Geraldo que fazia acontecer, que não se entregava diante de uma dificuldade.


As lágrimas que escorreram de seu rosto, fundiram-se com a água recém derramada na pia amarelada.


As coisas não poderiam mais continuar assim. Não mesmo.


Sem secar o rosto e os cabelos, iniciou uma procura incessante nas poucas gavetas que havia no recinto adjacente. Jogava objetos ao chão, movia-se com rapidez. Na segunda gaveta encontrou o que procurava. Seu título de eleitor. Tinha deixado ali após votar no primeiro turno.


O pequeno documento repousava no fundo da gaveta de um velho móvel. Estava um tanto quanto amassado, porém legível.


Ameaçou fechar a gaveta e com o movimento de empurrá-la um pequeno objeto rolou do fundo para a borda da gaveta fazendo com que Geraldo interrompesse seu movimento inicial. Era metálico e cilíndrico. Pegou-o e identificou: um projétil.


Ao manusear o pequeno projétil, lembrou de onde ele viera.


Em um de seus vários momentos de desespero a procura de emprego, Geraldo encontrou um de seus amigos de infância. Esse amigo utilizava meio ilícitos para ganhar a vida e convidou Geraldo a entrar em um assalto com ele, prometendo ganhos fáceis e rápidos.


O desespero falou por Geraldo que aceitou na hora.


Seu amigo depositou-lhe uma arma em uma das mãos e alguns projéteis na outra.


Na noite que se daria o delito, Geraldo foi tomado de uma crise de choro e desistiu a tempo, porém nunca mais voltou para devolver a arma. Escondeu a arma em cima do guarda roupas com o intuito de um dia entregar.


Interrompeu as reminiscências enfiando a mão mais ao fundo da gaveta e colhendo mais três projéteis. Correu para o guarda roupas e tateou-o até achar a arma de fogo que ali estava.


Com ela na mão, teve uma idéia.


Sorriu, mostrando os dentes amarelados, e começou a balbuciar sozinho enquanto municiava aquela que seria o personagem principal de seu plano. Quando terminou, colocou-a na cintura, na parte de trás das calças, o título de eleitor no bolso e saiu, batendo a porta atrás de si.


Votava em uma escola, não muito longe de sua morada, por isso resolveu ir a pé, pois caminhar sempre lhe fez pensar. Pensou, pensou e esquematizou como faria tudo. Não tinha erros. Ele salvaria o país com seu ato.


A fila estava pequena e a cada pessoa que entrava o frio na barriga de Geraldo aumentava.


Enfim, sua vez chegou.


Entrou. Tirou o título do bolso e mostrou ao mesário. Este conferiu e passou para a presidente de mesa. Foi aí que Geraldo notou a presença de Alice.


Alice foi sua namorada durante muito tempo. Geraldo terminou o namoro por não se achar digno do amor de uma moça tão trabalhadora, enquanto ele definhava na inutilidade.


A moça nunca se conformou e vez por outra o ajudava quando a dificuldade era muita.


Fazia muito tempo que Geraldo não a encontrava e agora ela estava ali como presidente de mesa da sua seção. No local onde ele escolheu para colocar seu plano em ação. Mas ele não poderia recuar. Não iria recuar.


Ela o cumprimentou e disse que ele já poderia votar.


Passo a passo, Geraldo caminhou em direção ao biombo. Olhou para a urna eletrônica, digitou os números do primeiro candidato. Olhou a foto da cara deslavada na foto. Cancelou. Digitou os números do segundo candidato. Novamente olhou a foto com desdém. Cancelou outra vez.
Digitou dois números aleatórios, pensando anular o voto. Cancelou mais uma vez.


Debruçou-se sobre a urna, abraçando-a. Ergueu a caixa eletrônica e retirou a arma da cintura.


Com uma das mãos agarrou a urna e apontou a arma para ela como se fosse um refém.


Saindo de trás do biombo, alternava a mira da arma entre a urna e os mesários, ordenando que saíssem da sala.


Dois deles saíram correndo, prontamente, porém Alice ficou estática, olhando para Geraldo.


- Vai Alice! – gritava Geraldo.
-Não sei o que tu está tramando Ge, mas não vou te abandonar. – respondia Alice, ainda pasma.
- Então tranca a porta e fecha todas as janelas! – dizia Geraldo a sua nova aliada.


Alice obedeceu prontamente.


Os mesários que correram em segundos espalharam a notícia que havia um homem dentro da seção e que tinha feito Alice de refém.


Em mais alguns segundos, a história já havia se espalhado mais e ainda houve quem aumentasse. Inevitavelmente o que chegou aos ouvidos da policia é que Geraldo não tinha suportado o rompimento do namoro entre ele e Alice e que a tinha feito de refém.


Minutos depois a votação ali tinha sido paralisada, o colégio evacuado e um cerco à sala já estava feito. E um negociador tinha sido colocado em contato com o celular de Alice, pois Geraldo não possuía um.


Enquanto o burburinho estava sendo feito do lado de fora, Geraldo explicava a Alice seu plano:


- Ge, o que tu está querendo com isso tudo? – perguntou Alice.
- Estou fazendo uma urna de refém, Alice, para ver se consigo chamar a atenção dos governantes desse país para as barbáries cometidas para com o povo. – respondia Geraldo, ofegante.
- Mas tu acha que vai dar certo isso? – questionava a moça, agachada junto a ele, num canto da sala.
- Sei lá, Alice, mas vou tentar. Tenho que tentar.


O celular de Alice tocava.


- Alô. – atendeu Geraldo.
- Alô. Geraldo?
- Isso. Isso mesmo.
- Meu nome é Celso. Sou da polícia e estou aqui para facilitar.
- Que bom Celso. Pois não quero ter que atirar nela. – dizia Geraldo apontando para a urna.
- Não será necessário, Geraldo. É só me dizer quais as suas condições para deixá-la sair.
- Quero um repórter com uma câmera de TV.
- Só isso? Se conseguirmos isso depois você a deixa livre?
- Deixo.
- Então ta. Vou providenciar.


Desligaram.


Celso virou-se para o comandante do batalhão e disse:


- Ele quer um repórter com uma câmera de TV para libertar a moça.
- Então, vamos dar o que ele quer. – disse o Comandante, chamando seu melhor atirador.


Geraldo estava excitadíssimo e contava sobre a conversa com o policial para Alice:


- Vou conseguir Alice!
- Geraldo, tu não pensa que vai ser preso por isso?
- Que nada, é só uma urna eletrônica...aliás, eu não sabia que eles davam tanta importância para uma urna.
-Pois é, nem eu...
- Mas não importa, posso até ser preso, mas vou aparecer nos telejornais de todo o país, manifestando minha indignação com a situação do país. – dizia Geraldo olhando para um horizonte que acabava ali na parede.


Duas horas depois, o celular de Alice toca novamente.


- Alô. - atendeu Geraldo.
- Geraldo, é o Celso novamente. Conseguimos seu repórter.
- Ótimo. Mande ele sozinho, somente com a câmera.
- Mandaremos.


Desligou.


Uma batida na porta.


Geraldo posicionou-se atrás do biombo com a urna. Alice quis ficar junto a ele.


Segunda batida na porta. Uma voz grita lá de fora:


- Ei, sou o repórter!
- Entre, mas sem gracinhas senão meto uma bala nela!
- Ok. Ok. Onde fico?
- Pode ficar aí mesmo...- disse Geraldo apontando a arma para um canto da sala.


Geraldo ia começar o discurso quando o repórter disse:


- Aí atrás deste biombo não tem luminosidade suficiente para gravar.
-Mas é aqui que vou ficar.
- Ali perto da janela é melhor. – disse o repórter.
- Não banque o engraçadinho! – gritou Geraldo.
- Só quero pegar mais luminosidade...
- Conheço muito bem esse papo...tu é policial disfarçado!
- Não! Não sou!
- É agora que vou meter uma bala nela!


Ao escutar isso o atirador disfarçado disparou a arma que estava camuflada na câmera, atingindo em cheio a cabeça de Geraldo, espirrando sangue em Alice que estava ao seu lado.


Alice gritou ao ver o corpo inerte de Geraldo ali caído e partiu pra cima do policial, soqueando a esmo como um movimento de desespero, gritando:


- Ele só queria falar o que sentia! Ele só queria falar o que sentia!
- Mas ele ia matar você! – dizia o policial segurando as mãos de Alice.
- Não! Ele ia meter uma bala na urna. – disse Alice aos prantos.
- Na urna???
- Sim...

***




Segunda-feira, 27 de outubro de 2008


Manchete de um jornal importante no dia seguinte:


Polícia mata seqüestrador e evita uma tragédia.


Mais um seqüestro passional foi registrado ontem, porém este teve um final menos trágico graças à ação da policia.


O seqüestrador foi abatido por um atirador disfarçado no momento em que ia atirar em sua refém.


A ação foi feita devido aos erros recentes da polícia em negociações de seqüestros.


Geraldo Santos, não suportando o término do namoro, resolveu seqüestrar Alice Ávila que estava trabalhando no segundo turno das eleições. O rapaz descobriu onde ela estaria e planejou tudo antecipadamente.


Alice Ávila não foi ferida e desmente a versão da polícia dizendo que Geraldo seqüestrou uma urna eletrônica para ter a atenção da mídia, pois queria protestar contra os governantes com relação à situação do país.


Especialistas dizem que é normal a vítima inventar esta história absurda devido à Síndrome de Estocolmo, mal que atinge as vítimas de seqüestros.

25 outubro, 2008

Os meus favoritos


Há alguns meses atrás só de ouvir a palavra “blog” uma repulsa tomava conta de mim, instantaneamente. Hoje, sou um aficionado por eles. Não há sequer um dia que nos os leia, que não os procure, que não deixe neles meus parcos comentários. Desando a ler os mais variados tipos e gêneros, sem preconceitos, com uma técnica que é um pouco incomum: Leio o primeiro, olho os blogs indicados e aproveito o link com o título mais interessante e assim vou indo incessantemente até as vistas cansarem ou acabar em um blog sem links (???).


Apesar de ser um leitor desenfreado de blogs alheios, chegando até eles casualmente, existem aqueles que acompanho assiduamente, diariamente, religiosamente. E são esses que destaco logo abaixo, com uma breve descrição de cada:



Delírius Tremens – Escrito por Julio César. É um blog de alto nível de humor, sarcasmo e ironia. Abrange tanto assuntos atuais quanto reminiscências.
Há que se ressaltar o ótimo nível textual. O imperador, como ele se autodenomina, é muito melhor que muitos redatores de programas humorísticos que vemos na televisão.


Dulce Malagueta – Escrito por Lih Marques. Blog que trata de assuntos variados com crônicas, músicas e poesias, porém sempre com uma mensagem para o dia-a-dia, muitas vezes subentendida.
A jornalista apresenta também um excelente feeling para artes, dando indicações de shows, peças de teatro, vernissages, entre outros.


Duo blog – Escrito pela dupla Dino e Diva. Os mais variados assuntos são abordados neste blog que tem a crônica como predominância. Dino trata dos assuntos com uma dose de humor, não deixando a crítica de lado enquanto Diva dá um toque de doçura aos textos.
A excelente escrita há que ser ressaltada, além da integração entre os integrantes que mostram que pode ser mantido um blog a quatro mãos.


O buraco – Escrito por Gabriel Bedin Slevisnki. Blog com uma proposta muito interessante, pois o autor divide-se em três alter egos para exprimir suas emoções.
Os três alternam-se na postagem, variando entre contos, crônicas e poesias. Todos de muita criatividade.


Palavras de um mundo incerto – Escrito por Marcos Seiter. Blog voltado para poesias em geral de sua autoria.


Catapop! – Escrito por Mestre Chang e The Batman. Blog que aborda as atualidades do mundo dos quadrinhos, cinema e música. Excelentes textos desenvolvidos pela dupla, sobretudo as sinopses.


Idéias largadas – Escrito por Lu. Pensamentos, devaneios, loucuras do cotidiano de uma blogueira inveterada.


Inventário do irremediável – Escrito por Juliane Wëlter. Citações, tiradas e situações muito bem flagradas e colocadas com uma dose de humor e/ou ironia.



Falando dos gaúchos - Escrito por vários colunistas. Blog voltado para os acontecimentos do RS, com ênfase no futebol.


Ressalto que a grande maioria dos blogs aqui indicados são de pessoas que nunca vi e até nem mantenho contato e que também não estou lucrando nada com isso.

Espero ter ajudado com estas indicações para os blogueiros de plantão que vivem a procurar algo de qualidade para ler enquanto estão na sua vida virtual.

23 outubro, 2008

Neologismo???


Como se já não bastasse o desacordo ortográfico na nossa querida e amada língua portuguesa, ando deparando-me com expressões e palavras que minha retina desconhece e meus tímpanos reverberam quando proferidas por alguns dos assassinos dessa que um dia foi a mais bela das falas e escritas.

E o pior de tudo é que vez por outra, distraidamente, flagro-me falando ou escrevendo tais heresias etimológicas.

Estaria eu exagerando?

Seria o neologismo da nova era lusófona?

Exemplificar-lhes-ei, ó leitores:



· Findi – Substantivo masculino que determina os dias do final da semana (sábado e domingo). Um dia foi “Fim de semana”.

Exemplo prático: Vamos para a praia no findi???



· Níver – Substantivo masculino que determina o dia que se faz anos. Começou sua abreviação com “Aníver”. Corruptela de “Aniversário”
Exemplo prático: O níver da Paulinha tava show!



· Namo – Substantivo de ambos os gêneros que determina aquele a quem se namora. Varia-se apenas o artigo para determinar o gênero. Ainda podemos ter variáveis como: Namor ou namors. Corruptela de namorado (a).

Exemplo prático: Tua namo ta uma gata hoje.



· Se pá – Expressão adjetiva que exprime dúvida, acaso ou possibilidade. É utilizado como talvez, quem sabe, pode ser. Etimologia desconhecida.

Exemplo prático: Se pá iremos à festa.



· Vc – Pronome de tratamento. Essa corruptela teve muitas variações. No início do século XVI era conhecida como Vossa Mercê, logo após Vosmercê, Vasmicê, Vance e finalmente você. É aplicada no internetês.


· Putz – Interjeição. Utilizada para expressar diversas situações. Corruptela de puta merda ou puta que pariu.
Exemplo prático: Putzzzzz!!



· Bjus – Plural do substantivo masculino que determina o ato de tocar com os lábios em alguém, ou algo, fazendo leve sucção. Corruptela de beijos. Também utilizado no internetês admitindo muitas variáveis, tais como: bjuxx, bjuzzz, bjos, bejos, bjokZ...
Utilizado também para se despedir, ao invés de um simples tchau.


Se pá, vejo vcs no findi. Bjus.

22 outubro, 2008

Top Ten do chororô

Por mais durão e insensível que você seja, ao assistir um desses 10 filmes abaixo sentirá no mínimo um nó na garganta e uma vontade que pelo menos uma lagrimazinha escape.

Tudo bem, depois você pode dizer que foi um cisco no olho...













Convém não estar em estado melancólico quando assistir qualquer um deles, pois o resultado pode ser catastrófico!
O uso de lenços é recomendável.

16 outubro, 2008

O vendedor de calças jeans em Auschwitz


Você está sendo desligado da empresa.”


Assim, simples assim, não exatamente com essas palavras, mas algo parecido com isso, ele recebeu a notícia do seu gerente naquela sexta-feira à tarde, cinzenta, enquanto ainda sentia o peso do almoço no estômago e a sonolência vespertina. O mesmo gerente que dias atrás fingiu ser seu amigo e tentou, de todas as formas, lhe vender uma calça jeans por não ter servido em sua cintura, ou melhor, o que outrora foi uma cintura.


O fato era que estava sendo inexoravelmente defenestrado.


Enquanto, ainda sentado, recebia as instruções de como proceder para os exames de praxe e para resgatar o capital que teria direito por seus serviços prestados àquela empresa, olhava firmemente nos olhos aquilares do seu interlocutor que apresentava, além do azul costumeiro, um prazer, um regozijo, uma satisfação imensa em estar proferindo sua dispensa. Era um azul semelhante aos dos olhos de Mengele, pensava o recém demitido, atrelado a um sadismo espelhado em Wirths. Uma Auschwitz estava instalada naquele local e era inevitável pensar em tudo que passou e se dedicou para que seu trabalho fosse reconhecido.


Tudo inútil.


Inútil como as calças jeans oferecidas pelo amorfo gerente que, com seu sorriso metálico, sinicamente desejava boa sorte.


Naquele momento, que não passou de uns 4 minutos entre a primeira e a última palavra ditas na salinha de reuniões, passou-lhe milhões de coisas na cabeça: No que teria feito de errado, na cotação do Dólar, na nova contratação do time, no capítulo 19 de um livro que estava lendo, nas pernas da Karina Bacchi, no último filme que assistiu no cinema, nas prestações que ainda restavam de um carnê, etc...


Não esperou o déspota finalizar o monólogo, pois aquilo estava lhe causando náuseas. Pensou que até que não era má idéia regurgitar ali mesmo, na cara do “Sr. Cinismo”. Adorou seu próprio pensamento e imaginou seu vômito sujando a camisa salmão, invadindo o colarinho, impecável do sacana.


Esboçou um sorriso. Queria ter gargalhado na cara dele, mas não o fez.


Levantou, saiu da sala, juntou seus pertences e partiu, sem olhar para trás e disso tudo tirou uma lição:


“Nunca confie em alguém que tente lhe vender uma calça jeans.”

15 outubro, 2008

Blog Action Day 08 - Poverty


Ei, você!

É, você mesmo que está comprando esta roupa linda, nesta loja caríssima, que no almoço transbordou seu prato de comida e só ingeriu um terço dela, que desfila com seu carro do ano pelas avenidas de sua cidade, que passa os finais de semana na sua casa no litoral, que coleciona pares e mais pares de sapatos, que dedica muitas horas do dia à sua beleza exterior, que quando criança teve os melhores brinquedos, que na adolescência teve suas vontades satisfeitas, que não teve dificuldades para completar os estudos, que possui uma conta bancária com muitos zeros à direita, sabe o que é sobreviver com apenas R$ 6,82 por mês????????

Pois é essa a quantia equivalente que vive uma família de seis pessoas na África.

Onde fica sua consciência?

A pobreza é cruel, porém ela não será vencida se continuarmos pobres de espírito.




Este post faz part da campanha Blog Action Day 08 - Poverty

14 outubro, 2008

Blog Action Day


Participe do Blog Action Day 2008. Clique no azul e saiba como.

10 outubro, 2008

Ah! Essas crianças...


- Paiêêêêêê... - gritou o guri lá do outro lado da sala enquanto olhava a chuva pela janela.

- Hum?... – respondeu o pai, sentado na sua poltrona preferida, folhando o caderno de esportes do jornal de domingo.

- Quem liga as torneiras da chuva, lá no céu? – perguntou o guri, ainda na ponta dos pés e debruçado na janela.

- São Pedro. – respondeu o pai, sucinto, pra não dar muito assunto.

- São Pedro??? - repetiu o guri, a essa hora fazendo embaçar o vidro da janela com seu hálito quente.

- É. – reiterou o pai.

- E quando ele sai de férias? Quem fica no lugar dele? - perguntou o menino, desenhando bichinhos com os dedos no embaçado do vidro.

- Ele não tira férias. – disse o pai, passando para o caderno de política.

- Não?? – falou o guri, apagando o desenho.

- Não. – reforçou o pai, suspirando já.

- Mas todo mundo tira férias...porque São Pedro não? Ele é escravo? – insistiu o piá, tentando abrir uma fresta na janela.

- Não. Ele não é escravo. E me lembrei agora que ele deixa o São Pedro Jr em seu lugar quando sai de férias. – disse o pai, certo de que tinha finalizado a “conversa”.

- São Pedro Jr?? – repetiu o filho, conseguindo a tão sonhada frestinha da janela.

- É. – disse o pai, lendo uma notícia de escândalo em Brasília.

- Então no céu tem nepotismo? – indagou o guri, molhando a mão que abrira a fresta, na água da chuva.

- Não, filho. É só um favor que ele faz pro pai dele. – falou o pai passando para o caderno policial.

- Mas e se ele sofrer um acidente de trabalho? Como vai pedir seus direitos se não tem um vinculo empregatício? – perguntou o filho, agora molhando o cabelo.

- Ele não sofrerá. – disse o pai, lendo uma notícia de assalto em seu bairro.

- Já sei!! Ele pode pedir que seja preenchida uma RPA para ele!! – disse o menino empolgadíssimo, enquanto fechava a fresta da janela. – Assim ele poderá ter assistência por causa dos 20% relativos ao INSS, né pai? – continuou o guri.

- Claro, meu filho. – concordou o pai, olhando agora a contra capa do jornal.

- Então ta! Vou lá para o quarto que o meu desenho favorito já começou – disse e saiu correndo em direção ao quarto.


O pai então fechou o jornal, chamou pela mulher, que estava na cozinha preparando o café e disse:


- Este menino está proibido de brincar com o filho do advogado aí da frente.


A mulher, sem entender nada, concordou e foi cozinha adentro.


09 outubro, 2008

Visitinha inesperada

Dê uma arruamda na sua sala de estar, pois poderá receber uma visitinha na terça-feira que vem.

Uma mensagem supostamente enviada por extraterrestres, que está sendo divulgada em vídeos na web, anuncia a vinda de uma nave espacial à Terra no dia 14 de outubro. Pasmem! Eles agendam a visita!

A mensagem extraterrestre, que teria sido "canalizada" pela australiana Blossom Goodchild, anuncia a presença de uma nave-mãe sobre o Hemisfério Sul e a partir de 14 de outubro, por um período mínimo de três dias, portanto fique de olho no céu e depois marque uma massoterapeuta, pois a dor no pescoço será enorme.

Blossom, que se define como "um meio profissional de canalização direta trabalhando com energias cósmicas e espirituais", diz ter contato com a entidade "Federação de Luz", a quem é creditada a mensagem, desde 2007.

O anúncio "ditado" pelos seres cósmicos da entidade foi feito em 1º de agosto e enviado por e-mail pela australiana a 128 pessoas, segundo ela mesma.

A notícia se espalhou pela Internet e logo foi postada em forma de vídeo no YouTube. Assista-o abaixo:



Na dúvida, deixei minha roupa de domingo limpa e passada e pedi para minha mãe fazer biscoitos de polvilho.

Disseram-me que os ET´s gostam muito desses biscoitinhos.

08 outubro, 2008

2º Portopoesia



Teve início neste dia 6 o 2º Portopoesia, onde acontecerão apresentações livre, debates, espetáculos de poesia, leituras de poemas, oficinas, shows e muito mais.

Embora não me considere um poeta, vez por outra escrevo umas linhas, todavia admiro muito quem o faz bem.

O Portopoesia tem um blog, no qual possui um espaço chamado "varal virtual", onde poetas, anônimos ou não, enviam seus poemas para serem postados. E este que vos escreve não poderia deixar de enviar suas mal traçadas linhas para o supracitado espaço, né?. E não é que eles postaram??

Confira aqui ó o poema postado, intitulado "Taprobana", ou simplesmente leia-o abaixo:






Taprobana



Sorte, revés

Ao invés de lembrar

do côncavo e convexo

prefiro regozijar momentos

de quando te saboreio sem nexo

Cornucópia de variadas frutas

com o suspirar das virgens

e o sarcasmo das prostitutas

És ígnea, insígnia da luxúria

Verso, reverso do esmorecer

És ilha no mar do descaso

Taprobana do meu prazer






PORTOPOESIA 2


Data: 06 a 12 de Outubro/ 08

Hora: das 10h às 22h

Local: Shopping Total

Av. Cristóvão Colombo, 545

Porto Alegre/ RS

06 outubro, 2008

A maldição do "Scroll Lock"



Com certeza você que passa algumas horas em frente ao computador já deu aquela olhadinha básica para aquela tecla ali entre o print screen e o pause break.

Não?

Claro que já!

Falo da inesquecível Scroll Lock.

E ao olhá-la deve ter se perguntado: qual a função dessa porcaria?

Não?

Claro que já!

E qual a resposta?

O quê? Ninguém te respondeu? Por Nossa Sra das Teclas Inúteis!!! Isso não pode ficar assim!

Era de se esperar que nada fosse dito, elucidado ou explicado, pois esta, aparentemente, inofensiva tecla foi desenvolvida por uma seita milenar e esconde muitos segredos junto com suas funções. Existem rumores do que pode ter acontecido ao se pressionar o scroll lock em determinadas situações.

Dizem que se por um acaso você estiver com seu Google Earth aberto e pressionar o scroll lock, dependendo da quantidade de vezes que fizer isso, você saberá a localização de pessoas aparentemente “perdidas”, tais como:

1- Adolf Hitler
2- Elvis Presley
3- Ulisses Guimarães
4- Padre dos balões

Não se sabe o número certo de vezes que a tecla tem que ser pressionada, mas aqueles que conseguiram juram que é verdade e que todos estão vivos, inclusive que Hitler casou-se com uma mulata.

Também foi comentado que pressionando a tecla 666 vezes seguidas em um intervalo de 666 milésimos de segundo entre as tecladas, quando estiver com seu inbox aberto, você receberá um e-mail do diabo, com assinatura e tudo.

Caso o intervalo de 666 milésimos de segundo entre as tecladas não seja obedecido, no máximo ele vai lhe enviar um convite para ser seu amigo no Orkut. Nem pense em MSN, ele odeia isso.

Um político famoso de Brasília conferia seus lucros quando derrepente pressionou, sem querer, o scroll lock enquanto estava com o site de seu banco aberto e toda sua fortuna foi transferida para uma conta aleatória no paraíso fiscal mais próximo.

Por sorte (dele), a conta para onde a grana foi transferida também era sua. Ele usava para lavar dinheiro. Eles (os políticos) podem até ter a mãe na zona, afora isso são uns sujeitos sortudos.

Alguns torcedores de Vasco e Fluminense estão tentando uma seqüência de tecladas do scroll lock no site da CBF para ver se conseguem evitar o rebaixamento dos seus clubes.

Até agora só conseguiram que o Dunga convocasse o Jô.

Dizem que se todas as teclas scroll lock do mundo forem pressionadas ao mesmo tempo podem causar a destruição da Terra.

Mas fiquem tranqüilos, a ONG “Um mundo sem Scroll Lock” trabalha nisso dia e noite para evitar a catástrofe.

O mais absurdo de tudo é quando a tecla é pressionada juntamente com o Alt e o Ctrl.

Incrivelmente, nada acontece.


02 outubro, 2008

Domingo é dia de "sufragear"


Em tempos de eleição, vemos muitos discursos políticos em comícios. Eis um interessante:


"Eu, quando eleito, não vou somente prometer. Vou cumprir cada palavra dita, sobretudo as de compromisso com meus conterrâneos.
Quero assumir um compromisso com vocês, meus eleitores, de uma forma que não poderemos quebrar este elo antes de estar tudo nos eixos.
Que este elo entre mim e vocês, seja sólido, a ponto de estreitar nossas relações tanto políticas quanto pessoais.
O mesmo tratamento a vocês será dado quando forem à minha casa ou quando estiverem na câmara, cobrando seus direitos.
Povo. É isto que sou e sempre serei, pois não podemos negar nossas raízes, nossa proveniência.
Se um dia, qualquer um de vocês precisar de minha ajuda, seja para o que for, saibam que estarei sempre disposto a escutar e auxiliar, se estiver dentro do meu alcance.
Exploda sua indignação com a situação atual, assim como eu faço aqui diante de vocês, pedindo seu voto, não só na urna, mas o de confiança para podermos mudar essa situação calamitosa.
Não deixe que sua voz se cale diante de tanta injustiça. Ajudem-me a combater essa sujeira toda que passa impune diante de nossos olhos.
Ligarei cada infrator a seu crime e lutarei para que sejam punidos devidamente, lavando a honra de nosso povo.
Para que isso tudo seja possível, preciso que todos vocês estejam comigo nesta luta.
Saúde será a meta principal do nosso programa de governo, pois não há condições de continuar sobrevivendo à mercê de um sistema parco como este.
Nem que a minha vida esteja em jogo deixarei que isto continue.
Para que isto seja possível, mais uma vez repito, ajudem-me. Preciso de todos vocês comigo. Só assim será possível combater esta sujeira.
Educação também é uma necessidade urgente e por isso temos um projeto que entrará em vigor assim que eleito, corrigindo as falhas que vêm sido cometidas em gestões passadas.
Minha intenção é deixar tudo em ordem nesses próximos quatro anos. Sabemos que é muito difícil, porém se não começarmos já, cada vez mais será postergado até ser impossível contornar.
Meta maior do nosso mandato é essa. Fazer em quatro anos muito mais que os outros fizeram em oito ou até mesmo doze.
É difícil, sabemos disso tudo, porém ao iniciarmos verão que é possível e com a ajuda de todos será ainda mais rápido dar a volta por cima.
Enriquecer a alimentação do povo é um sonho possível, porém para isso precisamos de um trabalho focado nas bases econômicas, cujo projeto também temos para pronta iniciação.
As áreas culturais e esportivas também serão devidamente incentivadas, concatenadas aos estabelecimentos educacionais.
Custas serão reavaliadas, sobretudo os impostos.
Do povo só pedimos o apoio. E paciência nos primeiros meses, pois faremos tudo para que a situação seja resolvida.
Dinheiro não traz felicidade. E foi dizendo isso que não fui a favor do aumento dos salários dos parlamentares.
Público sim, e nada, além disso, tenho de incomum com aqueles que dizem que governam nosso país de maneira ignóbil. Conto com seu apoio no dia cinco de outubro."


******************


Caso você não tenha percebido há uma mensagem subliminar neste discurso. Leia somente a primeira palavra de cada parágrafo de cima para baixo (estão em negrito) que verá as reais intenções do candidato em questão.



Tenha cuidado, neste domingo vote naquele que vá lhe trazer menos prejuízos.


Conto de fadas pós moderno


Bia

Como um furacão, Bia entrou em casa e sem dar nem um oizinho sequer para a mãe foi irrompendo quarto adentro jogando suas coisas. Bolsa para um lado, blusa para outro, sapatos deixados de qualquer jeito no chão. Já nua e embaixo do chuveiro, gritava para a mesma mãe que ficou sem o beijo, que estava atrasada, pois suas amigas iriam passar ali para pegá-la daqui duas horas. Iriam a uma rave.

Atrasada? Duas horas seriam mais do que suficientes para tomar um banho básico e se arrumar. Não para Bia. Fazia jus ao gênero, demorava o quanto fosse preciso para tudo sair perfeito, principalmente quando ia a uma festa.

Estavam combinando essa rave há dias. Foi uma semana totalmente dedicada a compras e tratamentos de beleza, só esperando pela sexta-feira.

Caetano

Calmamente, Caetano saiu do trabalho e ainda participou de um happy hour com os amigos, como era de costume todas as sextas-feiras. Entre conversas sobre mulheres e futebol, muitas cervejas foram consumidas até que alguém, que ele não se lembra bem quem era, deu a idéia de irem para uma rave ali pertinho.

Caetano imaginou que entre o banho e a troca rápida de roupa não levaria mais que 20 minutos.

Marcaram de se encontrar ali mesmo em uma hora.

E foram.

*************corta para Bia***************

Duas horas e quinze depois da entrada fulminante em casa, estava ela divida entre um top, uma blusinha e um macacão para ver qual combinava mais com sua mini-saia e suas botas recém compradas, sem contar os óculos escuros e o cinto.

As amigas já buzinavam na frente de sua casa e recebiam um “peraí” agudo pela janela do quarto.

Lá se iam três horas de produção.

Após a ajuda providencial da amiga Maria, ao decidir pela blusinha branca, saíram felizes e esvoaçantes.

*************corta para Caetano***************

Dezoito minutos contados. Esse foi o tempo de preparação para a festa, o que incluiu banho, troca de roupa, perfume, higiene bucal e gel no cabelo.

Resolveram dar mais uma passada em um barzinho, onde encontraram mais amigos. Mais assuntos. Mais futebol. Mais mulheres. Mais cerveja.

Ficaram ali até a meia-noite, quando resolveram ir para a tal rave.

E foram.

Dez minutos depois estavam na festa. O som tecno, altíssimo, impossibilitava o diálogo. Só restava dançar e beber.

*************corta para Bia***************

Aninha dirigia. Bia ao seu lado colocava um CD que tocava “Formato Mínimo”. Ela amava aquela música. Repetiu oito vezes durante o trajeto. Maria, que estava no banco de trás, também gostava e ambas cantavam, animadamente, cada verso da música de Samuel Rosa.

Ainda passaram na casa de Aninha, que tinha esquecido a entrada.

Chegaram à festa às duas e quinze.

*************corta para Caetano***************

Drum n’ bass e Full on dominavam a pista quando Caetano, após ter mirado sua sedução em cinco meninas diferentes e não ter sido bem sucedido, viu e não acreditou quando viu aquela moça entrando na festa acompanhada de mais duas amigas.

Cutucou Paulo com o cotovelo para mostrar aquela beldade, porém foi inútil, pois o amigo estava ocupado demais tentando ao mesmo tempo equilibrar-se, segurar o copo e passar a conversa em uma menina, que não dava a mínima.

A blusinha branca somada à luz negra dava um efeito magnífico. Caetano babava.

Não tirou mais os olhos dela, sobretudo do decote.

*************corta para Bia***************

Ao entrar na festa não conseguiu esconder a emoção e a excitação e desandou a falar, compulsivamente, com as amigas. Inútil, pois o som abafava muito suas falas. Sobrou dançar e beber.

Foi alertada por sua amiga que um “gatinho” não tirava os olhos dela. Percebeu. Gostou. Resolveu flertar.

Aninha avisou a ela que aquilo não era ambiente de se achar namorado, porém ela ignorou o alerta da amiga.

Dançava e olhava. Olhava e dançava.

A mexida nos cabelos e o meio sorriso denunciavam suas intenções.

Ela percebeu a aproximação do rapaz e então ficou nervosa.

*************corta para Caetano***************

Ela dançava e lançava olhares provocantes. Ele percebeu isso.

Jogava os cabelos e dava meios sorrisos. Ele também percebeu isso.

Resolveu ir até ela. Iniciou os passos.

Chegou.

*************corta para ambos***************

Olharam-se por cerca de oito ou dez minutos e sem trocar uma palavra dançaram e beijaram-se. Avidamente, mantinham suas bocas coladas e suas línguas trançadas.

Após longos minutos de somente troca de fluídos, Bia pensava ter encontrado seu príncipe, o pai de seus filhos, devido ao tremor que lhe assolava com aquele beijo. Caetano já mirava o próximo alvo, ali parada num canto com um decote tão convidativo quanto aquele que ele foi hipnotizado.

Realmente eles estavam em um conto de fadas.


Ela com síndrome de Cinderela e ele com síndrome de Peter Pan.