02 outubro, 2008

Conto de fadas pós moderno


Bia

Como um furacão, Bia entrou em casa e sem dar nem um oizinho sequer para a mãe foi irrompendo quarto adentro jogando suas coisas. Bolsa para um lado, blusa para outro, sapatos deixados de qualquer jeito no chão. Já nua e embaixo do chuveiro, gritava para a mesma mãe que ficou sem o beijo, que estava atrasada, pois suas amigas iriam passar ali para pegá-la daqui duas horas. Iriam a uma rave.

Atrasada? Duas horas seriam mais do que suficientes para tomar um banho básico e se arrumar. Não para Bia. Fazia jus ao gênero, demorava o quanto fosse preciso para tudo sair perfeito, principalmente quando ia a uma festa.

Estavam combinando essa rave há dias. Foi uma semana totalmente dedicada a compras e tratamentos de beleza, só esperando pela sexta-feira.

Caetano

Calmamente, Caetano saiu do trabalho e ainda participou de um happy hour com os amigos, como era de costume todas as sextas-feiras. Entre conversas sobre mulheres e futebol, muitas cervejas foram consumidas até que alguém, que ele não se lembra bem quem era, deu a idéia de irem para uma rave ali pertinho.

Caetano imaginou que entre o banho e a troca rápida de roupa não levaria mais que 20 minutos.

Marcaram de se encontrar ali mesmo em uma hora.

E foram.

*************corta para Bia***************

Duas horas e quinze depois da entrada fulminante em casa, estava ela divida entre um top, uma blusinha e um macacão para ver qual combinava mais com sua mini-saia e suas botas recém compradas, sem contar os óculos escuros e o cinto.

As amigas já buzinavam na frente de sua casa e recebiam um “peraí” agudo pela janela do quarto.

Lá se iam três horas de produção.

Após a ajuda providencial da amiga Maria, ao decidir pela blusinha branca, saíram felizes e esvoaçantes.

*************corta para Caetano***************

Dezoito minutos contados. Esse foi o tempo de preparação para a festa, o que incluiu banho, troca de roupa, perfume, higiene bucal e gel no cabelo.

Resolveram dar mais uma passada em um barzinho, onde encontraram mais amigos. Mais assuntos. Mais futebol. Mais mulheres. Mais cerveja.

Ficaram ali até a meia-noite, quando resolveram ir para a tal rave.

E foram.

Dez minutos depois estavam na festa. O som tecno, altíssimo, impossibilitava o diálogo. Só restava dançar e beber.

*************corta para Bia***************

Aninha dirigia. Bia ao seu lado colocava um CD que tocava “Formato Mínimo”. Ela amava aquela música. Repetiu oito vezes durante o trajeto. Maria, que estava no banco de trás, também gostava e ambas cantavam, animadamente, cada verso da música de Samuel Rosa.

Ainda passaram na casa de Aninha, que tinha esquecido a entrada.

Chegaram à festa às duas e quinze.

*************corta para Caetano***************

Drum n’ bass e Full on dominavam a pista quando Caetano, após ter mirado sua sedução em cinco meninas diferentes e não ter sido bem sucedido, viu e não acreditou quando viu aquela moça entrando na festa acompanhada de mais duas amigas.

Cutucou Paulo com o cotovelo para mostrar aquela beldade, porém foi inútil, pois o amigo estava ocupado demais tentando ao mesmo tempo equilibrar-se, segurar o copo e passar a conversa em uma menina, que não dava a mínima.

A blusinha branca somada à luz negra dava um efeito magnífico. Caetano babava.

Não tirou mais os olhos dela, sobretudo do decote.

*************corta para Bia***************

Ao entrar na festa não conseguiu esconder a emoção e a excitação e desandou a falar, compulsivamente, com as amigas. Inútil, pois o som abafava muito suas falas. Sobrou dançar e beber.

Foi alertada por sua amiga que um “gatinho” não tirava os olhos dela. Percebeu. Gostou. Resolveu flertar.

Aninha avisou a ela que aquilo não era ambiente de se achar namorado, porém ela ignorou o alerta da amiga.

Dançava e olhava. Olhava e dançava.

A mexida nos cabelos e o meio sorriso denunciavam suas intenções.

Ela percebeu a aproximação do rapaz e então ficou nervosa.

*************corta para Caetano***************

Ela dançava e lançava olhares provocantes. Ele percebeu isso.

Jogava os cabelos e dava meios sorrisos. Ele também percebeu isso.

Resolveu ir até ela. Iniciou os passos.

Chegou.

*************corta para ambos***************

Olharam-se por cerca de oito ou dez minutos e sem trocar uma palavra dançaram e beijaram-se. Avidamente, mantinham suas bocas coladas e suas línguas trançadas.

Após longos minutos de somente troca de fluídos, Bia pensava ter encontrado seu príncipe, o pai de seus filhos, devido ao tremor que lhe assolava com aquele beijo. Caetano já mirava o próximo alvo, ali parada num canto com um decote tão convidativo quanto aquele que ele foi hipnotizado.

Realmente eles estavam em um conto de fadas.


Ela com síndrome de Cinderela e ele com síndrome de Peter Pan.


Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei!!!
Bjos.. Elis