26 agosto, 2008

Lágrimas, chopp e infidelidade


-Todo homem é safado? – perguntou Silvinha, debulhando-se em lágrimas.
-Sim... – respondi. E vendo que com a minha afirmação o choro aumentava, complementei - Salvo raras exceções.
-E o Otávio? É uma dessas exceções? – perguntou ela. Tinha uma esperança na pergunta, que tratei logo de aniquilar com a resposta.
-Não, Silvinha. Senão ele não tinha feito o que fez. Agora o choro era incontrolável.
Enquanto ela ficava com lágrimas nos olhos eu ficava com os olhos nas pernas dela e pensava: como alguém poderia trair uma mulher como Silvinha? Era um mulherão. Um mulherão mesmo!! Daquelas que todos os seus atributos têm o sufixo “uda”. E o Otávio tinha feito isso. Traíra e, pior, deixara ser pego em flagrante...não podia nem negar. Que salafrário aquele Otávio. Como? Como? Aliás, que cara notável era, pois se ele não cometesse esse erro fatal, eu não estaria ali, consolando a Silvinha, aquela coisinha rara. Santo Otávio!
No fundo eu sabia que a minha amizade com o casal um dia ia me render frutos.
Fiquei abismado quando Silvinha me ligara, no meio da tarde, aos prantos já, dizendo que precisava conversar. A princípio, nem imaginava do que se tratava, porém depois que ela contou que o Otávio a traíra, não prestei mais atenção no que ela dizia, só conseguia imaginar Silvinha de lingerie, por cima, por baixo...minha nossa!!.
-Por quê?-Hãn?? –fui surpreendido pelo seu “por quê”. Estava hipnotizado pelas suas pernas.
-Por que os homens são assim?
-Sei lá, Silvinha...digamos que seja...característica do produto.
-Característica do produto?
-É...
-Como assim?
-Os homens nascem com isso...por mais que estejam felizes, plenamente satisfeitos em todos os sentidos na sua vida conjugal, a grama do vizinho é sempre mais verde...
Novamente o choro.
Não tinha culpa. Estava sendo verdadeiro. E fazendo-a odiar o Otávio. Era único jeito de conseguir derrapar naquela sinuosidade toda de Silvinha, fazendo-a ter ojeriza do namorado.
Minha idéia era consolá-la até passar da fase da tristeza para a fase da raiva e para isso a convidei para um Chopp. Nada melhor que os encantos etílicos para fazer o ódio aflorar, fazê-la querer se entregar para o melhor amigo dele...no caso, eu.
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela ia dizer a célebre frase: “Vou dar o troco na mesma moeda!!”
E essa hora estava chegando. Eu sentia. Nunca me enganei com as mulheres.
Silvinha falava...e falava muito! Mas eu não conseguia prestar atenção em suas palavras. Eu via que de sua boca saiam palavras, de seus olhos lágrimas, mas quem consegue se concentrar em uma conversa com aquele decote ali, tão...tão...decotado!
Eu fingia. Fingia desapontamento. Fazia cara de triste.-Bla bla bla ...Marcinha...bla bla bla
-O quê??? – eu a ouvi dizer “Marcinha”? Ouvi sim...
-Você faria isso com a Marcinha eu perguntei? – repetiu a tentação, digo, Silvinha.
-Com a Marcinha? – respondi com outra pergunta para ganhar tempo, pois dependendo da resposta que desse, meu plano ia por água abaixo.
Se dissesse “Sim”, ela ia me achar tão crápula e desprezível quanto seu namorado.
Se dissesse “Não”, ela não ia pular no meu colo na hora da vingança...na hora do troco.
-Deixa a Marcinha de fora...
-Deixo nada, ela é sua namorada. Faria ou não faria?? – arregalou aqueles olhos verdes oliva...que olhos!!
-Veja bem, Silvinha...- quando começamos uma resposta com “veja bem” vamos mentir descaradamente. Aprendi com os políticos.
-Hum...-Quando a gente ama...- continuei vacilante, olhando para o copo dela, ainda cheio.
-Fala homem!!! – esbravejou ela, sorvendo o líquido de uma vez só, sem tirar o copo da boca.
-Eu não amo a Marcinha!!
-O quê??
-Não amo...
-Então faria??
-Se eu achasse alguém que amasse...
-E já achou??
-Já.
É agora...eu sentia que era agora...ela ia ficar abismada e eu me declararia. Oportunista.
-Então, quer dizer que...
-Sim, Silvinha! É isso mesmo que está pensando...
Debulhou-se em lágrimas.
-Então é isso?? – perguntou ela, entre uma soluçada e outra.
-O que pensou Silvinha?? – perguntei, não crendo que tinha deixado escapar a chance.
-Tu disseste que o Otávio ama aquela...aquela...lambisgóia!!
Além de ter que escutar um impropério tão obsoleto como “lambisgóia” ainda tive que agüentar mais uma crise de choro da Silvinha. E essa fora longa.
Não perdi as esperanças. Consegui mudar o rumo da conversa e até a fazer dar umas risadas. Foi um avanço e tanto.
Três chopps.
Quatro.
Seis.
No oitavo chopp, Silvinha levantou, de súbito. Mesmo sendo alta, pois era mais de 1,80 de puro estrogênio, conseguiu ser rápida ao levantar. Pegou-me pelo colarinho e me trouxe para bem perto dela, olhando bem no fundo dos meus olhos e ofegante começou a falar:
- Sabe o que eu vou fazer agora??
-Não...-respondi trêmulo. Era agora...
-Pois eu vou te dizer o que vou fazer...
-Diga...- resmunguei, pois já não dominava mais as pernas, ela ia dizer “a frase”.
-Eu...
Aquela agonia tinha que ter um fim...parecia um sonho...Obrigado Deus!! Obrigado Otávio!! Aquelas curvas...ahh aquelas curvas...iam ser minhas!!
-Eu...- repetiu ela, ainda ofegante e me prendendo pela gola da camisa com ambas as mãos.
-Eu...vou passar no primeiro supermercado que encontrar aberto, comprar uma caixa de bombons, aliás, duas caixas, passar na locadora, locar três filmes bem tristes de amor e chorar bastante, em casa por causa daquele desgraçado.
Aquela resposta fez-me sentar novamente. Fiquei olhando para o nada, enquanto ela se despedia com um beijinho no rosto e agradecendo por ter sido um ótimo “amigo”.
Ela já estava de costas, há alguns passos de distância, quando resmunguei que “amigo de mulher é cabeleireiro”.
Não escutou.

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