09 setembro, 2008

Natasha


Tinha nome de vodka e corpo de Vênus de Milo.

- Natasha.

Assim, simples assim, foi como ela se apresentou, esticando a mão e abrindo o sorriso que fez parar o tempo.

-Téo. – replicou Teobaldo.

Não ia dizer que seu nome era Teobaldo, em hipótese alguma para uma escultura daquelas.

Enquanto ela abria o sorriso com os dentes mais brancos que já vira, imaginou de quantas formas possíveis poderia “bebê-la”. Inúmeras.

Era o oitavo pecado capital. Gula, Preguiça, Luxúria, Vaidade, Avareza, Soberba, Ira e Natasha.

Bendito seja o Armando, que a conduziu pela sala inteira de seu apartamento fazendo as apresentações de praxe. E assim ela ia, de um em um, causando embasbacamento nos homens e inveja mortal nas mulheres. Com um pretinho básico tão colado que ora poderia ser confundido com a própria epiderme da moça. E o rebolado?? Ah que rebolado! Era melhor que ver gol do time do coração.

Era a nova estagiária do Armando, aquele velho lobo da noite, tentando aprontar das suas novamente. Depois do escândalo com a última estagiária com menos de 25 anos, pivô de seu divórcio, o velho Armandinho, como era chamado por todos, tinha deixado de lado essa história de contratar meninas para os cargos de proximidade na empresa.

Nos happy hours que aconteciam frequentemente no Ap. do Armandinho, sempre na primeira sexta-feira de mês, já tinham o pessoal confirmado, os que sempre iam, porém naquele dia o Teobaldo, que nunca ia, resolvera ir. Ficou num canto, meio deslocado, afastado para ser mais exato. Estava olhando através da janela quando ouviu aquela voz aveludada vindo por de trás de seu ombro direito:

- Amei seu perfume. Qual é o nome?

Era Natasha e estava sem o Armandinho a tiracolo.

A pergunta fora simples, comprava sempre o mesmo perfume, seria fácil dizer o nome, mas dessa vez fora como se tivessem perguntado o número atômico do Molibdênio numa prova oral de química. O nome...como era mesmo?? Não podia desapontar aquele monumento de forma alguma. Mudou de assunto rapidamente.

Teobaldo tentava concentrar-se na conversa, mas só conseguia imaginar o corpo rijo e perfeito por baixo daquele vestido e nos gestos que ela fazia quando sorria, jogando o cabelo para trás ou passando levemente a língua na borda do copo, enquanto prestava a atenção em alguma explicação filosófica.

O papo já se estendia e o Armandinho foi disparando olhares cada vez mais penetrantes para o Teobaldo. Quase que inevitável pensar na segunda-feira a carta de demissão em cima de sua mesa. Ah! Que se dane!! Natasha valia uma demissão! E como valia! Emprego encontra-se aos montes, mulheres como Natasha era uma em um milhão e estava ali no maior flerte com ele, Teobaldo, que nunca fora um Casanova.

Teobaldo estava se sentindo o máximo, mais olhado que capítulo final de novela das oito.

Apesar de todos os homens da reunião a tirarem para dançar, ela sempre voltava para a companhia do Teobaldo e isso foi deixando-o mais confiante, já até ensaiava umas piadas.

Estavam numa intimidade incrível. Ela, quando gargalhava, jogava-se para frente quase se abraçando no excitadíssimo Teobaldo.

Sentaram-se num sofá bem aconchegante numa parte penumbra do ap e rodaram por vários assuntos até chegar no “família”. Teobaldo, já com a mão sobre a perna da moça, próximo, bem próximo dela, inocentemente, perguntou se ela tinha mais irmãos, aqueles assuntos para não deixar a conversa morrer, sabe? Ela prontamente respondeu que tinha mais uma irmã e dois irmãos, contando nos dedinhos daquela mãozinha que foi feita para não fazer absolutamente nada. Perfeita. Lisinha. Emendou já dizendo os nomes: Jonnie Walker, Jack Daniels e Walesa. Teobaldo, querendo ser engraçado, disse que o pai dela só podia ser o Velho barreiro. Soltando uma gargalhada estrondosa, por ter achado uma piada, além de oportuna, engraçada mesmo. Não foi acompanhado pela moça na gargalhada que se levantou com lágrimas nos olhos, falou algo no ouvido do Armandinho e saiu correndo do Ap.

Na segunda-feira, nada de Natasha.

Tempos depois, Teobaldo ficou sabendo que o pai dela era alcoólatra e morrera de cirrose hepática.

Desde então sempre quando há happy hours no ap do Armandinho o Teobaldo toma um porre de vodka. Advinha qual?

Um comentário:

Anônimo disse...

Retribuindo a visita que fez ao DUO BLOG, tive a grata surpresa de encontrar o conto "Natasha".
Confesso que esperava melhor sorte para o Teo(baldo)...
Parabéns, Luck!